3ª fase... fecha-se um ciclo.

Sem passado, presente ou futuro, duas pessoas experimentam a solidão de personagens que vivem presas em quartos alugados de um hotel sem lugar, espaço ou tempo, dirigido por uma porteira sem nome, idade ou qualquer vontade.
Pensamentos tardios, nocturnos, alimentam o tempo de pessoas que não falam e agem na eminência que algo aconteça.
A fatalidade inerente às histórias ficcionadas é estendida em momentos cinematográficos transpostos para uma performance ao vivo, em que o público é convidado a espreitar a vida de quem não conhece e em conjunto esperar descontraídamente que as palavras irrompam do barulho normal, quotidiano e meaningless....
dizia, e bem que dizia - performance duracional - mas a verdade é que os dias correm, e nos dias que correm as mentes mudam, a barba cresce, o cabelo não encontra limites, as roupas são poucas, o cansaço infiltra-se por cada poro... enfim, o mundo em constante mudança. e assim mudou-se a performance, mudou-se o objectivo e resulta nesta 1ª fase de montagem e adaptação de "Quarto Alugado" num mundo que acorda diferente todas as manhãs, para alguns pelo menos...
eis a 1ª fase do título:


tudo o resto está a evoluir numa 1ª fase...
"são quatro personagens + o senhor do chapéu-de-chuva; uma casa e diferentes quartos; palavras ditas que acompanham o silêncio; tudo o que já foi dito, ouvido e visto é repetido aqui neste pequeno "mise-en-scéne", mas o objectivo é fazer teatro com, ou SEMPALCO, mas fazê-lo e não baralhar a cabeça com mais perguntas sem resposta, ou ferir os olhos na procura de algo novo que surpreenda multidões. Isso não vai acontecer, mas quem sabe, se no meio de tanta tentativa não há surpresas agradáveis que satizfaçam o âmago do espectador, ou de alguém que por acaso sem paraquedas no meio desta insignificante loucura, e no final de tudo...não sei, afinal de contas, quantas fases são precisas para chegar ao fim? Sinceramente não me interessa... esta é a primeira e está em curso." Daniel Pinheiro

Numa 2ªfase... "o texto sofre transformações, todos os pensamentos e frases soltas se integram num copy-paste perfeito que nos transporta a movimentos artisticos do passado, como o dadaísmo e o surrealismo que viam na livre associação de ideias um caminho perfeito para se fazer arte. Não é uma tentativa de afirmação, como 'novos pensadores da vanguarda' (até porque seria errado e perfeitamente estúpido fazê-lo sem qualquer tipo de apoios logisticos). a verdade é que durante a procura e exploração dos textos, damos de caras com coincidências que podem ser mais do que simplesmente isso, que na realidade vem ter connosco porque estamos disponiveis a vê-las. Ainda que sem possibilidade de conseguir algum exemplar, a descrição de um suicidio, num livro intitulado "O Quarto Comum" e que inspirou Tadeusz Kantor para o seu espectáculo "A Classe Morta", inspirou-me (neste conjunto de complexidade metafisica) para poder procurar novas opções dramatúrgicas que servissem o trabalho que se vem a fazer. Assim, continuando na linha de pensamento da 1ª fase do trabalho, as letras agrupam-se e tentam fazer sentido aos olhos do fazedor de arte - neste caso nós - se não fizer, podemos sempre alegar que quisémos escrever um manifesto, e tentar instalar uma corrente estética que mudasse a arte... não queremos fazer isso, mas pode ser uma desculpa!" Daniel Pinheiro

...3ªfase... "com o relógio a marcar, a galope, as horas em contagem decrescente, os arranjos finais foram feitos, os teclados trabalharam incessantemente e tarefa parecia impossível de terminar. a dramaturgia destacou-se por seguir caminhos estranhos à forma natural de pensar, a pontuação modificou-se, os parágrafos alteraram-se, a personagens definiram-se, as ideias fluíram até se poder escrever "FIM" palavra-chave para uma das etapas que constitíua a 3ª fase de todo o processo. Entretanto as páginas aumentavam de número, á medida que se ia completando a proposta para o concurso dos "Novos Actores" do Teatro São Luíz. Um discurso elaborado permitiu traçar os objectivos tão pouco definidos que existem no inicio de qualquer etapa, entrou em acção o marquês e nas suas palavras um sadismo (não propositado) decalcou a silhueta dos que sonham num palco e se denominam sem ele. O Quarto foi colocado à disposição de ser alugado e tomou proporções exactas. As camas foram feitas, a recepção foi limpa, os corredores varridos e o homem-do-chapéu-de-chuva entrou de novo no fim.
Os velhos trazem sabedoria, e "à terceira é de vez", de certo modo podemos alegar que sim, se chamarmos à próxima fase, a primeira (como no início, se bem que no início "...era o verbo"), provérbios à parte uma 1ª etapa foi completada. Noutras mãos, ou noutras gavetas, jazem as mais que muitas folhas que definem o projecto que já foi para ser outra coisa, mas que agora é diferente. As horas passam, os cabelos crescem, as barbas desfazem-se, a depilação é importante, a chuva cai, o frio irrompe pelas paredes, pelos tectos, pelas frinchas, as pessoas vivem perto do Natal e de um novo ano, mas no fim de tudo, as horas continuam a passar, e serão para sempre as mesmas horas... em contagem decrescente para uma resposta que está na eminência de cheugar a qualquer momento. Bom Natal...mas ainda faltam algumas (muitas) horas!" Daniel Pinheiro

1 comment:

Anonymous said...

QUARTO ALUGADO É OU PODERÁ SER:

Uma grande marca de enlevo teatral transmitindo a requintada reflexão de seres olvidados neste quotidiano!!


Gonçalo Balão